07
Jan 09
publicado por Alexandre Veloso, às 14:10link do post | comentar

As previsões apresentadas pelo Banco de Portugal só vieram confirmar aquilo que já se sabia desde há muito: que Portugal vai entrar em recessão. O único que não quis ver esta realidade foi o Primeiro-Ministro. O número que apresentava para o crescimento económico em 2009, 0,6%, sempre foi completamente irreal, mas só o Governo é que não via isso. Agora Sócrates admite rever o Orçamento e corrigir as previsões, o que só vem dar razão à oposição que dizia que os valores do Governo estavam completamente desfasados da realidade. Em vez de corrigir, Sócrates não devia sequer ter proposto números tão absurdos no Orçamento.

A propósito da entrevista do nosso PM deixo aqui algumas observações sobre a sua prestação:

- em relação ao Estatuto dos Açores reafirmou a sua posição de que interpreta a Constituição de maneira diferente em relação ao Presidente. Só lamento que não seja capaz de dar razão à maioria dos especialistas na matéria, já que TODOS afirmam que os dois artigos são INCONSTITUCIONAIS. O Tribunal Constitucional também deve pronunciar-se pela inconstitucionalidade, o que levará o Governo a ter que retirá-los do texto. Tal como acontece com o Orçamento, também neste caso o Governo vai ser obrigado a corrigir os seus próprios erros.

- Na questão da economia, o PM esteve um pouco confuso em relação aos números que eram apresentados pelos moderadores da entrevista ( e aqui deixo uma grande saudação à postura desafiadora adoptada por Ricardo Costa, não baixando assim a cabeça como já foi feito na RTP), chegando mesmo a contradizer os gráficos apresentados.

- a forma como defendeu o interesse dos portugueses como justificação para salvar bancos e empresas foi positiva, mas agora quase o obriga a salvar qualquer empresa que esteja em risco. Depois do BPN, do BPP, da Aerosoles e etc, qual vai ser a empresa que se segue?

- Sócrates continua a ser um grande defensor das novas obras públicas como forma de reanimar a economia. Tenho muitas dúvidas em relação à construção do TGV, porque acho que a relação custo/benefício não justifica que seja feito um investimento tão oneroso para os cofres do Estado. Em relação ao novo aeroporto de Alcochete, o investimento é grande mas penso que é necessário, porque o prazo de validade da Portela caminha para o fim e manter um aeroporto dentro da cidade vai contra o novo conceito de aeroportos internacionais. Vale lembrar que a Portela já não tem mais para onde crescer.

O problema da construção do aeroporto é que vai obrigar à construção da contestada ponte Chelas-Barreiro, que, segundo o Governo, vai servir para aliviar o trânsito das outras duas pontes, sendo que a Vasco da Gama ficará com excesso de utilização quando o novo aeroporto estiver pronto. O problema é as pessoas lembram-se muito bem que esse era o mesmo discurso de Ferreira do Amaral quando decidiu da luz verde à construção da Ponte Vasco da Gama e que o resultado foi o aumento do fluxo de trânsito que entra em Lisboa todos os dias. Se com duas pontes o volume de carros que entra diariamente na capital já é grande, imaginem com três....

- quando falou da guerra dos professores, Sócrates fez bem o seu papel ao defender as políticas do ministério da Educação. Partilho da opinião de Miguel de Sousa Tavares de que o que os professores querem é não serem avaliados, ou em alternativa fazerem a sua própria auto-avaliação. Ora isto não é aceitável. O ministério já "suavizou" o modelo de avaliação dos professores, ainda que a mudança seja apenas até ao final do ano lectivo.

O facto de já não serem avaliados com base nas notas dos alunos (o que era absurdo) e de só serem avaliados por outros professores da mesma área técnica, contrariamente ao que era proposto antes, quando os professores poderiam ser avaliados por colegas de outras áreas (outro absurdo) parece não ser suficiente para parar a contestação. Afinal o que querem os sindicatos?

Em resumo, acho que o PM portou-se razoavelmente bem. É pena é que não saiba reconhecer os seus erros e que continue a perder-se em auto-elogios desnecessários.


"Só a partir da segunda década do século XXI é possível o regresso do crescimento. Se entretanto não se fizerem asneiras que nos impeçam de acompanhar a nova era de prosperidade."
Helena Garrido "Jornal de Negócios", 7 de Janeiro de 2009

Se ela o diz quem sou para a contradizer...
Juve a 7 de Janeiro de 2009 às 19:08

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