A primeira visita do Presidente Barack Obama a Moscovo fica marcada por um facto bastante importante e que não é o bom acordo alcançado pelos dois países para a diminuição dos seus arsenais nucleares, que hoje servem mais como elementos dissuasores do que como verdadeiras armas de ataque (ou alguém realmente acredita que haverá um ataque de Washington a Moscovo ou vice-versa?) e nem a falta de entendimento entre os dois países em relação ao escudo antimíssel planeado pelos americanos e que pode ser instalado na Europa de Leste ( que os russos ainda encaram como sendo a sua área de influência).
O facto relevante foi a declaração de Obama de que o seu interlocutor nesta viagem a Moscovo era o Presidente russo Dmitri Medvedev. Esta afirmação caiu muito mal em Vladimir Putin, o actual Primeiro-Ministro que é por muitos considerado o verdadeiro líder da Rússia apesar de já não ser Presidente.
Esta frase é um bom e um mau sinal. É bom porque Obama deixa claro que as suas relações privilegiadas serão com Medvedev, que é verdadeiramente o chefe de Estado. Obama pensa que Medvedev tem uma mente mais aberta e que é mais progressista do que Putin, que Obama encara como um elemento da "velha guarda", com uma mentalidade ainda muito ligada aos tempos da Guerra Fria. E é um mau sinal porque tentar dividir a liderança bicéfala russa e desvalorizar o papel de Putin pode vir a complicar o entendimento entre russos e americanos, isto porque Putin ainda exerce uma grande influência na política russa e em Medvedev.
Há quase um ano e meio que Putin deixou de ser Presidente da Rússia e ainda hoje o vemos aparecer muitas vezes. Enquanto Putin foi Presidente alguém lembra-se de ele ter dado tanta visibilidade a algum dos seus Primeiros-Ministros? A resposta é não e a razão é a de que Putin é e sempre será o verdadeiro líder na Rússia. E ignorar este facto poderá ser fatal na tentativa de melhorar as relações entre os EUA e a Rússia.