Vou ser directo:
Um assunto como aquele que foi apelidado d' "O Caso Esmeralda" não possui qualquer critério de noticiabilidade que permita a sua entrada nas nossas casas, todos os dias.
Venham teóricos da comunicação com os seus intocáveis valores-notícia, com a história da venda do peixe e do interesse. Mas qual interesse? Só se for o do público e este, sinceramente, enoja-me.
Enoja-me que uma criança que tem à volta de 6 anos (se não estou em erro) e respectiva família (adoptiva ou não - vêem, já estou informado sobre o assunto) estejam sujeitas ao veredicto nacional, a toda a hora. Independentemente do que tenha sido ordenado pelo Tribunal de Torres Novas (estou mesmo informado!). A notícia que começou com o rapto da filha pela própria mãe, seguida da prisão do pai e mais umas uns quantos dados dignos dum simples relatório de investigação policial ganhou proporções tais que agora, quando a bola de neve já vai tão redondinha e avantajada, porquê calar o assunto, agora que o desfecho se aproxima?
Quando os interesses e os direitos (à privacidade, sobretudo) do objecto da notícia são ultrapassados pela cegueira de audiências das televisões e jornais (aqui as privadas têm um papel preponderante) e por esta intenção de apelar ao sentimento nacional em torno dum caso familiar, está muita coisa dita acerca do que se passa em Portugal, nos nossos meios de comunicação. Se é este o panorama em que me quero integrar, quando acabar o curso? Não. Mas é o que há.
E o facto é que talvez tenha que me calar, quando lá chegar.