Após a intervenção de um deputado britânico no Parlamento Europeu, com um discurso bastante pró-europeu, a opinião pública britânica voltou a agitar-se. A questão de uma possível adesão ao euro é de há muito tempo um assunto bastante controverso. Muitos britânicos ainda têm um sentimento bastante ambíguo em relação à própria Europa e à presença da GB na União Europeia. Muitos têm ainda a ideia de que a GB devia ainda viver em "glorioso isolamento", tal como nos finais do século XIX e inícios do século XX.
Acho que a verdadeira questão não está em uma possível adesão britânica ao euro, mas sim numa nova participação da população britânica na actividade política. Na verdade o que muitos britânicos querem é que o país avance, pouco importando-se com as disputas doutrinárias entre o Estado e o mercado.
O povo na terra de Shakespeare parece hoje bastante conformado com o "status-quo" que reina no país. As pessoas acomodaram-se a viver à espera que o Estado possa fornecer-lhes tudo aquilo que for necessário: saúde, assistência social, subsídio desemprego, boas pensões de reforma e etc. Parecem já habituadas ao estilo trabalhista de governar, em que o rigor económico é palavra de ordem.
Por a Grã-Bretanha estar a viver assim, os Trabalhistas tiveram de moderar as suas tentativas de privatizar cada vez mais. Nos tempos de Tony Blair, a política de privatizações era fundamental, porque o próprio Blair considerava que o sector público era bastante fraco. Claro que, na altura, Blair limitou-se a privatizar aquilo que ainda restava do sector público, e que não tivesse sido privatizado nos anos do governo Thatcher.
O que os britânicos esperam hoje é um bom nível dos serviços que o Estado lhes presta e estão dispostos a pagar por isso. Discussões sobre a Europa e sobre o euro pouco importam ao povo.
O Governo de Gordon Browm precisa é de ter atenção às necessidades do povo. Resta saber se terá tempo suficiente para isso. Apesar do aparente adormecimento da população em relação à política, o desgaste por 12 anos de Governo dos trabalhistas (10 com Tony Blair e quase dois de Brown) já começa a sentir-se. Os britânicos tem a particularidade de reeleger primeiros-ministros de que não gostam, mas que são sempre melhores do que os outros tem para oferecer. Foi assim com Margaret Thatcher (que ganhou em 1983 devido à incapacidade do rival trabalhista, Michael Foot, e em 1987, em que mesmo desgastada acabou por ganhar a Neil Kinnock) e com Tony Blair em 2005, quando este mesmo desgastado pela polémica do Iraque, acabou por derrotar os conservadores, que eram liderados por Ian Duncan Smith.
A Gordon Brown podem acontecer duas diferentes coisas caso ganhe: ou ganha com uma boa margem e cala de vez os seus detractores, ou ganha com uma margem pequena, o que é politicamente arriscado, pois corre o risco de ser derrubado dentro do seu próprio partido e forçado a sair, tal como aconteceu com Thatcher em 1990 e com Blair em 2007. Nestes dois casos, o desgaste de um longo período de governação e as críticas ao rumo que estava a ser seguido contaram bastante para a saída dos líderes. Este risco,o do desgaste, Gordon Brown também corre, mas não devido a um desgaste pessoal, mas sim a um desgaste do próprio Partido Trabalhista. O líder dos Conservadores, David Cameron, já mostrou que será um rival à altura e que não apresentará resultados tão fracos como os seus antecessores.
Para saber qual o futuro caminho a ser trilhado pela Grã-Bretanha vamos ter que esperar pelas legislativas de 2010.