Os próximos tempos vão ser da maior importância para o futuro da política em Portugal e, sobretudo, do país em si. Sócrates em apuros, sozinho. A oposição agradece.
Parece-me que o primeiro-ministro errou ao escolher Vital Moreira como candidato do PS ao Parlamento Europeu, o que lhe vai dar a vitória nas europeias. O cabeça de lista dos socialistas para o PE tem sido um dos seus críticos mais ferozes e subliminares em relação às questões europeias (Tratado de Lisboa, apoio a Durão Barroso). Tudo o que contrariar Sócrates vai receber votos quer queiramos, quer não.
Por outro lado, o facto de agora se falar num eventual Bloco Central parece-me tudo menos coerente. Basta assistir a um debate quinzenal para perceber que nem para jogar matraquilhos os dois grandes partidos se entenderiam. Esta hipótese levaria a uma crise de governabilidade que, nos tempos que correm, é o que menos se deseja.
Portanto, em ano eleitoral, as coisas estão pretas para o lado de Sócrates. A paródia invocada por João Pereira Coutinho de que "só Sócrates pode derrotar Sócrates" começa a desvanecer-se. Paulo Portas está hoje mais à esquerda do que o PS na primeira metade do mandato: ganha votos. Francisco Louçã assiste calmamente à subida do seu partido nas sondagens, podendo até passar a terceira ou segunda força política: ganha votos. Ferreira Leite, ao prosseguir na retaguarda deste comboio de crítica - sistemática, fácil e agradável ao ouvido geral - em relação ao governo ganha, inevitavelmente (e infelizmente), votos.
E agora Sócrates tem a guilhotina à espera, preparada especialmente por metade dos jornalistas, a totalidade dos professores, agricultores, desempregados, enfermeiros, médicos e quem quiser inventar motivos para o assassinar, política ou literalmente.